Uma idosa, de 70 anos, morreu enquanto aguardava ser transferida para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em Santos, no litoral de São Paulo. A família de Rita Vieira de Albuquerque denunciou g1, nesta quarta-feira (26), o atendimento recebido na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Zona Noroeste e ressaltou que a paciente sequer foi diagnosticada.
“Só falaram que estava com infecção dentária e que precisava passar por um [especialista] bucomaxilo. Em nenhum momento deram diagnóstico. Depois falaram que precisava de vaga na UTI por causa da idade e o grau da infecção que ela estava”, informou a técnica de enfermagem Vera Lúcia Alves Gomes, sobrinha da idosa.
Vera contou ao g1 que tudo começou no último dia 18, quando Rita não conseguiu comer por conta de dores nos dentes e foi levada pela filha até a UPA pela primeira vez.
De acordo com a técnica de enfermagem, a tia estava fraca e com alteração na taxa de diabetes. Por isso, recebeu medicação para dor e foi liberada. No entanto, no dia seguinte, passou mal e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) precisou ser acionado para levá-la ao hospital novamente.
“Ela tomava água pela boca, mas saía pelo nariz. Ninguém estava entendendo o que estava acontecendo e ela meio que desmaiada”.
“Estava amarrada”
Ao chegar na UPA da Zona Noroeste, a idosa ficou em observação aguardando vaga para internação. Um médico informou à família que ela precisaria tomar antibióticos, mas, para isso, seria necessária uma avaliação de especialista bucomaxilo, que não tinha no local.
No dia 20, a paciente foi encaminhada pela equipe médica para uma unidade com o especialista, mas o profissional afirmou que não tinha o que fazer por ela. Rita retornou à UPA e passou mal à noite. “Ela quase parou. […] desceram com ela para uma sala de emergência e mandaram minha prima para casa”.
Vera explicou que a família foi informada que Rita precisava ser transferida para UTI e estava na fila pela Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (Cross). No dia 22, a sobrinha disse ter se assustado ao ver a situação da tia na UPA da Zona Noreste.
“Estava amarrada, com contenções nos braços, praticamente as pernas para fora da cama”, contou.
De acordo com a técnica de enfermagem, a bandeja com comida para a paciente estava próxima da cama hospitalar, mas a enfermeira contou que Rita não estava comendo. Segundo ela, um médico relatou que a idosa estava respondendo bem ao tratamento.
A sobrinha contou que chegou a pedir ao profissional uma sonda nasoenteral para a paciente, mas o médico disse que o procedimento não poderia ser realizado no local.
“Foi uma facada no meu coração, não sabia nem falar para minha família que ela estava amarrada, sem comer, sem beber”.
A família passou a se mobilizar nas redes sociais em busca de ajuda, mas no mesmo dia recebeu a notícia de que Rita não resistiu. “Ela não foi a primeira [morte] nem vai ser a última. Infelizmente, a saúde pública está horrível. Cross não funciona”, desabafou Vera.
Segundo ela, a idosa era moradora de São Vicente, mas foi para Santos em busca de atendimento porque é a cidade em que a filha mora. Rita não tinha feito tratamento dentário antes da infecção.
“Ela era uma mulher alegre, sempre disposta a ajudar, uma pessoa maravilhosa. Na hora que ela mais precisou, tudo isso aconteceu”, lamentou Vera.
Posicionamentos
A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo lamentou o falecimento da paciente. “A Cross é apenas um serviço intermediário entre os serviços de origem e de referência. Seu papel não é criar leitos, mas auxiliar na identificação de vagas em unidades aptas a atender as necessidades clínicas dos pacientes”, diz a nota enviada ao g1.
A Prefeitura de Santos foi acionada, mas não respondeu até a publicação desta matéria.