A bebê Lua Smith de Azevedo, 1 ano, morreu durante atendimento na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) 26 de Agosto, em Itaquera, na zona leste da cidade de São Paulo. Ela sofreu parada cardíaca após receber medicação na veia e não resistiu.
No dia 18 de abril, Lua foi levada pela mãe, Caroline Smith, 23, à UPA 26 de Agosto. A unidade é gerida pela SMS (Secretaria Municipal da Saúde) em parceria com a APS Santa Marcelina. Na ocasião, a criança apresentava tosse e febre.
De acordo com o relato da mãe, a médica receitou uma bolsa de 250 ml de soro com dipirona e metilprednisolona – a medicação seria por gotejamento segundo a prescrição -, quatro jatos de bombinha (salbutamol) e um período com máscara de oxigênio para evitar desconforto.
“A Lua estava com 39 de febre, então passaram ela como prioridade. Pediram para eu ir rapidamente até o consultório da médica, porque ela queria avaliar antes mesmo de medicá-la. Eu perguntei qual conduta seria tomada, ela me explicou e falou que passaria um sorinho com medicação para tosse e febre, e as bombinhas de salbutamol para ter certeza de que a saturação seria restaurada. E também que ela ficaria um tempinho no oxigênio”, relata a mãe.
Caroline também questionou se algum exame seria feito na filha. A médica disse que pediria um raio-X e exames de sangue e urina para descobrir a origem da febre.
“Peguei as folhas que a médica deu, conferi as medicações e batia com o que ela tinha falado. Fui para a sala de medicação. Foi o único momento que eu vi consultarem a prescrição. A enfermeira disse que seria em soro e pediu para aguardar. Disse que a Lua não estava bem e tinha febre. Ela me deu compressas frias, uns paninhos umedecidos com água, e pediu para que eu colocasse nas axilas dela para ajudar a resfriar”, conta Smith.
“Os quatro jatos da bombinha foram feitos primeiro. Ela ganhou muita energia, começou a interagir e querer brincar. Nesse momento, ela pegou o meu celular, ligou para o pai dela. Como estava com pouca bateria, eu desliguei. Ela ficou pedindo. Aí o pai dela fez chamado de vídeo e a Lua conversou com ele, do jeitinho dela. Ela brincou, deu risada, se despediu, deu tchau e mandou um beijo. Aguardei bastante tempo ainda. Em nenhum momento vieram aferir a febre e a saturação dela novamente. Ficamos lá uns 40 minutos antes de começar a medicação venosa.”
Ainda na cadeira da recepção, segundo relato da mãe, a profissional de enfermagem levou o soro e uma seringa à parte, sem identificação e com líquido transparente. Caroline não viu a preparação da medicação aplicada num acesso na veia. A criança começou a chorar.
“Como a minha filha ficou agitada, ela [a profissional] terminou de aplicar todo o conteúdo da seringa de uma vez e rápido. Isso não se faz nem em adulto. Minha filha parou de chorar, ficou pálida, não teve mais resposta. Disseram que era convulsão. Colocaram minha filha numa maca, mas não ligaram o monitor para verificar os sinais vitais. Eu falei para a enfermeira que tinha sido a medicação. A enfermeira falou que ela estava em convulsão por causa da febre e eu falei que a Lua não suportou a medicação que ela tinha acabado de aplicar”, afirma Smith.
“Eles colocaram uma máscara de oxigênio em uma criança que não tinha sinais vitais. A minha filha já não tinha respiração. Ela estava roxa e pálida. Quando o médico chegou, iniciaram as manobras de reanimação. Fiquei aguardando na porta por uma hora. Questionava os funcionários que saíam dali e me diziam que não sabiam de nada. Invadi a sala de emergência e me deparei com a minha filha sem vida, enrolada em um lençol, sem nenhum tipo de aparelho. O pai dela veio atrás de mim. Nós nos deparamos com aquela cena e pedimos perdão a ela por ter deixado isso acontecer.”
Em nota, a Secretaria da Saúde lamentou o ocorrido e se solidarizou com a família. A pasta afirmou que instaurou uma rigorosa apuração interna para avaliar o atendimento prestado pela UPA 26 de Agosto.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, uma profissional de enfermagem está sendo investigada. A autoridade policial requisitou exames necroscópicos e toxicológicos ao IML (Instituto Médico Legal). “Diligências estão em andamento para esclarecer os fatos. Detalhes serão preservados para garantir a autonomia do trabalho policial”, diz nota enviada pelo órgão.
Caroline é auxiliar de enfermagem e técnica em alimentos, mas havia abdicado das carreiras para cuidar de Lua.
O boletim de ocorrência foi registrado no 53º DP (Parque do Carmo), mas o caso é investigado pelo 65º DP (Artur Alvim), ambos na região leste da cidade.
“Falei com a médica que atendeu minha filha em vida que a medicação a matou. A médica disse que prescreveu de forma que não causaria danos a ela, pois em soro por gotejamento não tem esse efeito. Nesse momento entendi onde aconteceu o erro. Expliquei à médica como foi feita a medicação e ela disse que não havia pedido isso. Não consigo paz para viver meu luto, pois preciso lutar por justiça pela minha filha.”
Fonte: Sampi / JCNET (Foto: Reprodução)