A Polícia Civil realizou nesta sexta-feira (18) uma reconstituição da morte da aposentada Nilza Costa Pingoud, que teve o corpo enterrado no quintal da própria casa em Barretos (SP) pelo autor do crime.
Segundo o delegado à frente das investigações, Rafael Faria Domingos, a reprodução foi necessária para esclarecer pontos divergentes sobre a dinâmica e datas do caso relatados por testemunhas e o suspeito preso, Leonardo Silva.
Domingos destacou que já foi possível concluir que Nilza foi morta no dia 24 de julho e teve o corpo enterrado no quintal quatro dias depois.
“[A reconstituição é] Para efetivamente ilustrar o processo, para demonstrar ao juiz, ao promotor e à defesa como os fatos aconteceram, para que isso fique mais claro, e o juiz possa tomar uma decisão ao final do processo”, disse.
Como foi a reconstituição?
Além da Polícia Civil, a Polícia Científica também participou dos trabalhos de reconstituição nesta sexta-feira.
Na reprodução, foram utilizados materiais já apreendidos, como uma enxada, cortador de grama e uma faca, além de um boneco, drone e scanner 3D.
“A reprodução simulada se vale de todas as versões que foram colhidas, tanto a versão da polícia quanto a versão dele [suspeito], de testemunhas, então a gente reproduz essas cenas”, explica o delegado.
Não foi divulgado um prazo para que todos os resultados da reconstituição estejam disponíveis.
Pedido de avaliação de saúde mental
A defesa do suspeito de matar a aposentada pediu à Justiça que ele seja avaliado por um psiquiatra e uma psicóloga.
Segundo o advogado Luiz Gustavo Vicente Penna, somente na posse do laudo será possível informar se Silva sofre ou não de alguma doença mental. O documento também vai ajudar a definir a estratégia da defesa no processo.
“Após a verificação da equipe que fará uma análise prévia, para verificar se ele realmente tem algum problema ou não, vamos entrar com o incidente de insanidade mental, previsto no Código de Processo Penal”, afirma o advogado.
Penna explica que o instrumento é usado sempre que há dúvida sobre a saúde mental do acusado.
“O incidente de insanidade mental é para verificar se, à época dos atos, ele era ou não inimputável, ou seja, para responder ao ato criminoso, o acusado tem que ter conhecimento do que estava sendo feito. Contudo, o escritório, antes de alegar a insanidade, irá elaborar um trabalho técnico preliminar. Na posse do laudo, dependendo do que constar, o caminho jurídico será decidido.”
O laudo com profissionais indicados pelo escritório precisa ser confirmado por peritos judiciais.
Confissão e deboche
Leonardo Silva, de 18 anos, foi preso temporariamente na quinta-feira (3) e confessou o assassinato de Nilza. Ele disse que agiu motivado por vingança e debochou do crime.
“Matei, gente (…) por diversão também. Estava [com raiva], por muitas coisas, gente. Minha vida é uma série. (…) Eu vou matar e vou me arrepender depois? Então não adiantava eu matar. Que bandido é esse? Valeu [a pena]”, afirmou Silva na porta da Delegacia de Investigações Gerais (DIG).
Delegado responsável pelo caso, Rafael Faria Domingos disse que o suspeito não demonstrou qualquer tipo de arrependimento.
“A gente percebe [a frieza] porque ele parece não ligar para as consequências do que ele fez. Quando chegou a Barretos, ele assumiu o crime para a imprensa. Não apresenta remorso, planejou com tempo esse crime e não apresenta nenhum tipo de arrependimento.”
O caso é investigado como latrocínio, roubo que teve morte como consequência.
Segundo o delegado, Silva agiu por vingança. Há cerca de quatro meses, o rapaz foi morar nos fundos da casa de Nilza, que tinha se proposto a ajudá-lo depois que ele se apresentou a ela como travesti. Ela o contratou para fazer serviços domésticos depois que ele pediu demissão do emprego anterior.
O delegado afirma, no entanto, que o combinado foi desfeito porque Silva acabou não correspondendo às expectativas dela.
“Ele alega que o crime foi uma vingança, porque ele teria abandonado um emprego anterior para trabalhar na casa da vítima, como serviços domésticos. O combinado acabou sendo desfeito, porque a vítima disse que ele não tinha compromisso e o dispensou. Ele ficou sem o emprego anterior, sem lugar pra morar e ficou com muita raiva e começou a planejar a morte dela.”
Crime premeditado
Domingos apurou que Silva voltou a Barretos no dia 22 de julho e sondou a residência de Nilza. Na madrugada para o dia 24 de julho, ele pulou o muro da casa e ficou escondido em um quarto nos fundos. Quando o dia amanheceu, ele a surpreendeu no cômodo e a matou por asfixia com um fio.
Antes de enterrar o corpo no quintal, o suspeito permaneceu na casa por alguns dias e ainda lavou o imóvel.
Segundo a polícia, Silva teve tempo de obter dados bancários da vítima para fazer compras. Uma moto chegou a ser comprada para ser entregue em um apartamento que ele tinha alugado em Barretos com o dinheiro de Nilza.
No entendimento da Polícia Civil, as investigações apontam até o momento que, a despeito das falas do suspeito, a maior motivação do jovem foi financeira.
Fonte: G1 (Foto: Reprodução/EPTV)