O padre Silvio Sadi Tesche, afastado pela Arquidiocese de Campinas (SP) por suspeita de cometer atos de injúria racial, é investigado por ao menos dois casos. Os episódios, registrados no ano passado, envolvem funcionários de uma agência bancária da qual o acusado é cliente.
A primeira ocorrência foi em 30 de setembro. A vítima, um manobrista de 57 anos, contou à polícia que os clientes do banco são orientados a deixar as chaves de seus veículos com ele para que sejam estacionados. No entanto, o sacerdote teria se recusado.
Além de empurrar a vítima, Silvio ainda teria dito “sai daqui, seu macaco filho da puta”. O manobrista relata que questionou o que ouviu e, em resposta, foi ofendido novamente. “É isso mesmo, é por isso que eu não gosto de negro, seu petista”, teria afirmado o investigado.
Menos de um mês depois, no dia 25 de outubro, o padre voltou à agência. Ele teria se direcionado até a recepcionista, uma jovem de 23 anos, e pedido que ela parasse de atender um cliente e pegasse café para ele. Segundo o depoimento, a vítima se recusou e disse que não tinha aquela função.
Apesar disso, perguntou se ele precisava de ajuda, mas Tesche teria insistido para que pegasse o café na máquina. Em seguida, fez perguntas sobre a bebida que ela não soube responder e, por isso, a chamou de burra, contou a funcionária.
No dia seguinte, o padre voltou pedindo para conversar com a gerente, mas a atendente informou que ela não poderia atendê-lo. De acordo com o relato, o homem começou a gritar, chamando a vítima de “neguinha” e “mula”.
A gerente testemunhou as ofensas e pediu que Silvio saísse da agência. No entanto, ele também teria começado a gritar contra a gerente, dizendo que ela era “burra, incompetente, bossal, que estava no bico do corvo”, completa a denúncia.
Testemunhas afirmaram às autoridades policiais que ele era um cliente já conhecido por ser “estúpido e rude com todos”.
uestionada, a defesa do sacerdote afirmarou que “os fatos não ocorreram da forma como noticiados pela suposta vítima”, mas que “tendo em vista os princípios do contraditório, ampla defesa e devido processo legal, a defesa técnica e o acusado somente se manifestarão nos autos do processo”.
Afastamento da igreja
Com o andamento das denúncias, que tramitam na 1ª Vaga Criminal da cidade, a Arquidiocese de Campinas (SP) afastou o padre. De acordo com a decisão, a medida busca “prevenir escândalos, proteger a liberdade das pessoas envolvidas e tutelar o curso da justiça”.
Com o afastamento, o sacerdote fica privado do exercício público da ordem, cessando imediatamente quaisquer jurisdições e licenças para presidir ou administrar publicamente Sacrementos ou Sacrimentais e exercer ofícios eclesiásticos.
A Arquidiocese de Campinas determinou que o padre continue sendo assistido para seu sustento, recebendo a remuneração mensal de dois salários mínimos – pouco mais de R$ 2,6 mil. No entanto, fica sob a responsabilidade dele os custos de defesa.
Por meio de nota, a Arquidiocese informou que o padre afastado deverá “responder pessoalmente por seus atos no fórum eclesiástico e civil. “Iluminada pelas Palavras do Evangelho, a Igreja refuta qualquer tipo de discriminação”, completou.
Fonte: G1 (Foto: Reprodução/EPTV)