Léa Garcia morreu hoje, aos 90 anos, horas antes de ser homenageada com o troféu Oscarito no Festival de Gramado, pelo conjunto da obra ao lado de Laura Cardoso. A informação foi confirmada pelos familiares nas redes sociais. Splash apurou que a causa da morte foi um infarto agudo do miocárdio.
É com pesar que nós familiares informamos o falecimento agora na cidade de Gramado, no Festival de Cinema de Gramado, da nossa amada Léa Garcia.
Ao lado de nomes como Ruth de Souza e Zezé Motta, Léa Garcia foi uma das primeiras atrizes negras da televisão brasileira, e uma das maiores expoentes da cultura afro-brasileira. A atriz estava em Gramado desde o fim de semana, acompanhada do filho, Marcelo Garcia, e assistiu a sessões dos filmes “Retratos Fantasmas” e “Tia Virginia”.
Léa ficou famosa no Brasil após interpretar Rosa em “Escrava Isaura” (1976). Antes, no entanto, ela já havia representado o país no cinema internacional: interpretou Serafina em “Orfeu Negro” (1959), filme de Marcel Camus.
Inspirado na peça teatral “Orfeu da Conceição”, de Vinicius de Moraes, o longa venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro e fez a atriz ser indicada ao prêmio de melhor interpretação feminina em Cannes.
Além de pioneira, Léa se dedicou a fomentar o cinema negro brasileiro ao longo da vida. Como roteirista, adaptou para as telas textos de autores negros como Cidinha da Silva, Luiz Silva Cuti e Muniz Sodré. Ela também participou de produções feitas por pessoas negras que colocavam temas raciais no centro do enredo, como “As Filhas do Vento” (2005).
Léa Garcia seria uma das homenageadas hoje no Festival de Cinema de Gramado. No festival, a atriz já conquistou quatro Kikitos, com os filmes “Filhas do Vento”, “Hoje tem Ragu” e “Acalanto”. Caio Blat, um dos curadores do festival, relembrou os últimos momentos da atriz em conversa com Splash:
“Estou em choque, ela estava animadíssima na sessão de “Tia Virgínia” [no domingo à noite], comentando todas as cenas. Ao mesmo tempo, é uma despedida de cinema, sendo ovacionada e homenageada. Acho que os gigantes da nossa profissão gostam de partir em movimento. Gostam de viver o cinema até o último instante. Ela é imortal, inesquecível, abriu caminhos, precursora da representatividade que hoje ainda se busca.”
Quem foi Léa Garcia:
Filha de uma modista e de um bombeiro, Léa Garcia nasceu no Rio de Janeiro em 1933. Se interessou pelas artes cênicas por influência do dramaturgo e ativista social Abdias do Nascimento, que a convenceu a subir ao palco do Teatro Experimental do Negro na peça “Rapsódia Negra” (1952). Léa e Abdias tiveram dois filhos: Henrique Garcia do Nascimento e Abdias do Nascimento Filho.
A atriz fez sua estreia na televisão no Grande Teatro da TV Tupi ainda na década de 1950. Na década de 1960, a atriz participou de “Ganga Zumba”, primeiro filme dirigido por Cacá Diegues, que teve participação de Cartola e trilha sonora de Moacir Santos.
Léa Garcia foi para a Globo em 1970 na novela “Assim na Terra Como no Céu”, novela de Dias Gomes, na qual a atriz interpretou Dalva, a empregada do personagem de Jardel Filho. Em 1972, ela participou do primeiro programa gravado inteiramente em cores no Brasil: um episódio de Caso Especial chamado “Meu Primeiro Baile”.
Em 1976, Léa interpretou sua primeira vilã em “Escrava Isaura”, novela adaptada por Gilberto Braga do livro de Bernardo Guimarães. O papel de Rosa fez Léa ser reconhecida pelo público, mas também lhe rendeu problemas: a atriz chegou a sofrer violência física de telespectadores que odiavam a personagem.
“Escrava Isaura é o meu cartão de visitas. Tive muitas dificuldades em fazer cenas de maldade com a Lucélia Santos. Eu me lembro de uma cena em que, quando a Rosa acabou de fazer todas as perversidades com a Isaura, eu tive uma crise se choro, me pegou muito forte. Chorei muito, não com pena, mas porque me tocou.” – Léa Garcia no Memória Globo
A atriz também atuou em tramas na TV Manchete, como no folhetim de Duca Rachid, “Tocaia grande” (1995) —baseado na obra de Jorge Amado—, e em “Xica da Silva” (1996), de Walcyr Carrasco, que tinha Tais Araújo como protagonista. Léa contracenaria novamente com Tais em “Anjo Mau” (1997) na Globo, emissora na qual atuou ainda em “O Clone” (2001), de Gloria Perez, e “Êta Mundo Bom!” (2016), de Walcyr Carrasco.
Desde então, a atriz fez quase 70 filmes e novelas em sua carreira, além de 20 peças. Seu último papel na TV foi Dona Antônia na terceira temporada de “Mister Brau”, em 2017.
Fonte: Uol (Foto: Reprodução/Redes sociais)